Caldeirada (Poluição)

Autor: Alberto Janes
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Em vésperas de caldeirada,
O outro dia,
Já que o peixe estava todo reunido,
Teve o goraz aideia
De falar àassembleia,
No que foi muito aplaudido
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Camaradas principia:
A ordem do dia
É tudo aquilo que for poluição,
Porque o homem,
Que é um tipo cabeçudo,
Resolveu destruir tudo, pois então!
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E com tal habilidade e intensidade
Nas fulgurânçias do génio,
Que transforma a água pura
Numa espécie de mistura,
Que nem tem oxigénio
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E diz ele que é o rei da criação!
As coisas que a gente lhe ouve e tem que ser!
Mas a minha opinião, diz o pargo capatão,
Gostava de lha dizer!
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Pois se a gente até se afoga! Grita a boga,
Por o homem ter estragado o ambiente!
Dá cabo da criação, esse pimpão,
E isso não é decente!
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Diz do seu lugar: tá mal.. o carapau,
Porque por estes caminhos,
Certo vamos mais ou menos
Ficando todos pequenos,
Assim como “jaquinzinhos”
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Diz então o camarão, a certa altura:
Mas o que é que nós ganhamos por falar?
Ó seu grande camarão, pergunta então o cação,
Você nem quer refilar?
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Se quer morrer, diz a lula toda fula,
Com a mania da cerveja e dos cafézes,
Morra lá à sua vontade, que assim seja,
Para agradar aos fregueses!
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Diz nessa altura a sardinha p'rá taínha:
Sabe a última do dia?
A pescadinha, já louca,
Meteu o rabo na boca,
O que é uma porcaria!
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Peço a palavra, gritou o caranguejo,
Eu que tenho por mania observar,
Tenho estudado a questão
E vejo a poluição
Dia e noite a aumentar
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Cai do céu a água pura e a criatura
Pensa que aquilo que é dele, é monopólio.
Vai a gente beber dela e a goela
Fica cheia de petróleo!
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A terra e o mar são para o cidadão
Assim como o seu palácio
Se um dia lhe deito o dente
Paga tudo de repente
Ou eu não seja crustáceo!
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É um tipo irresponsável, grita o sável,
O homem que tal aquele!
Vai a proposta prá mesa:
Ou respeita a natureza,
Ou vamos todos a ele!