
Júlio de Sousa
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Foi ontem que lembrei o meu passado
E o fantasma remorso deu-me um beijo
Só ontem percebi tudo acabado
À luz crua da vida em que me vejo
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Um filho desse amor, amor pecado
No meu pecado vivo se tornou
E chora e fica triste
Sempre que canto este meu fado
Um fado de um amor, que o amor matou
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Foi ontem como hoje
E sempre, sempre, o que há-de vir
Oh Deus dá-me sossego p’ra dormir
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Foi ontem que fechei os olhos teus
Mas novamente veio a Primavera
E eu que julgava ter fechado os meus
Outro ninho teci com folhas de hera
*
Foi ontem que fugiu, outra o levou
Porque será que tudo me castiga
Porque será que eu canto
Esta toada, esta cantiga
Que a experiência da vida me ensinou
*
Foi ontem como hoje
E sempre, sempre, o que há-de vir
Oh Deus olha por mim, quero dormir